
Reflexões sobre as aulas e orientações sobre o processo de certificação. Prazo e diretrizes para a entrega de trabalhos estendem-se até 13 de janeiro de 2025
A aula final do curso “Agroecologia: Bases Conceituais e Metodológicas para Extensão Rural” reuniu professores, agricultores e entusiastas da agroecologia em um encontro híbrido. Transmitida ao vivo do Armazém do Campo, no Distrito Federal, na última quinta-feira, 12 de dezembro, a aula abordou o tema “Estratégias Integradas de Extensão Rural e Mercados: Aproximação de Quem Produz e Quem Consome e a Relação Campo-Cidade”.
Mediada pela professora Flaviane Canavesi, coordenadora do Projeto Extensão Rural e Agroecologia (ERA), a 8ª aula do curso contou com a participação dos professores da Universidade de Brasília (UnB), Janaína Diniz e Armando Fornazier – ambos referência em estudos sobre agroecologia e mercados. O debate explorou estratégias para fortalecer a conexão entre produtores familiares e consumidores, promovendo mercados mais acessíveis e sustentáveis.
O professor Armando Fornazier, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV-UnB), destacou que “a extensão rural desempenha um papel central na melhoria dos mercados”. Em sua abordagem sobre a Tipologia e Construção Social dos Mercados da Agricultura Familiar, Fornazier ressaltou que a extensão rural atua na formação de organizações, como cooperativas e associações, e oferece suporte técnico aos agricultores. Para ele, esse apoio é fundamental para que eles possam atender às novas demandas dos consumidores, especialmente no contexto da transição para práticas agroecológicas. Com o crescente interesse dos consumidores urbanos por alimentos frescos, produzidos de forma justa e sustentável, que valorizam atributos como certificações orgânicas, de comércio justo, ou provenientes da reforma agrária e da agricultura familiar, a extensão rural se apresenta como um aliado essencial nesse cenário.
“Hoje, uma grande parte da população vive nas cidades, e há uma crescente busca por uma maior aproximação entre produção e consumo. O que reforça a importância de mercados que valorizem essa produção. A extensão rural tem um papel fundamental em compreender as diferentes realidades dos produtores e apoiar a transformação de seus sistemas produtivos para atender às novas demandas dos consumidores. Essa conexão pode ser facilitada por iniciativas como lojas físicas, a exemplo dos armazéns do campo, que oferecem produtos da reforma agrária de diversas regiões do Brasil, ou por meio de mercados digitais organizados por associações de pequenos produtores e movimentos sociais.” Essas ações, destacou o professor, impactam diretamente na geração de renda e na melhoria das condições de vida das famílias produtoras, promovendo sistemas alimentares mais sustentáveis e inclusivos.
Acesso à mercados
Já a professora Janaína Diniz, fez questão de destacar a importância dos circuitos curtos de comercialização, que facilitam o acesso a alimentos pela população e tornam a distribuição mais eficiente. Segundo ela, a distribuição abrange todo o processo de levar um produto, desde o agricultor até o consumidor final, envolvendo diferentes agentes e organizações. “Quanto mais níveis de intermediação existem, mais longo é o canal de distribuição, o que pode impactar o preço e a acessibilidade dos alimentos.” Circuitos curtos, por outro lado, reduzem a distância entre quem produz e quem consome, promovendo maior transparência e sustentabilidade.
Janaína explicou ainda que canais de distribuição podem variar em extensão e amplitude. Por exemplo, em casos de monopólio, há um único agente responsável pela comercialização, enquanto em outros modelos o próprio produtor realiza a venda direta ao consumidor, como ocorre em feiras ou plataformas de venda online.
Para ela, os circuitos curtos de comercialização, como as feiras tradicionais, são essenciais para promover o escoamento da produção da agricultura familiar e fortalecer cooperativas e associações. Esses canais podem ser geograficamente próximos ou socialmente curtos, conectando diretamente produtores e consumidores, como ocorre no Armazém do Campo. Além disso, a diversificação da comercialização, com apoio de políticas públicas, permite que os agricultores acessem diferentes mercados, como feiras, redes de varejo e indústrias, ampliando o volume e as oportunidades de venda. “O cooperativismo e o associativismo são fundamentais nesse processo, especialmente para viabilizar a produção em escala e atender demandas maiores, sempre buscando incluir práticas de assistência técnica que favoreçam tanto a produção quanto a comercialização.”
A professora Flaviane Canavesi destacou a importância da formação de extensionistas rurais para atender às novas demandas do consumo político, em que os consumidores escolhem apoiar determinados sistemas produtivos ao decidir onde gastar seu dinheiro, privilegiando, por exemplo, produtos locais. Ela enfatizou que os extensionistas precisam dialogar com a cidade, compreendendo o consumo urbano e debatendo os espaços do rural nas áreas urbanas, como feiras e mercados. Nesse sentido, a extensão rural pode atuar como mediadora, não apenas implementando políticas públicas, mas também promovendo um planejamento urbano que acolha o rural, conectando campo e cidade. A professora mencionou ainda o papel das pesquisas desenvolvidas pelo projeto ERA/UnB em parceria com o Dater/SAF/MDA, que buscam compreender os limites legais e os desafios dessa integração.
“Temos que revisar para que a extensão rural esteja cada vez mais presente, não apenas no meio rural, mas também no urbano. Estar no meio urbano é uma forma de fortalecer o rural no território. Porque a agricultura que queremos — a transição agroecológica, uma agricultura para a vida, com impacto positivo sobre a saúde — acontece no território. Chegamos à nossa oitava aula enfrentando os desafios de realizar um curso que busca proximidade e interação, mesmo em formato remoto. Aqui estamos, extensionistas de várias regiões do Brasil, compartilhando aprendizados e experiências. Ao longo do curso, trabalhamos conceitos fundamentais da agroecologia, exploramos metodologias e, na última aula, discutimos a relação entre terra, territórios e agroecologia.
Uma Parceria de Impacto
Promovido pela Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (FAV-UnB), em parceria com o Projeto ERA e o Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural (DATER), da Secretaria de Agricultura Familiar e Agroecologia (SAF/MDA), o curso teve apoio de importantes entidades, como a Asbraer, Faser e a Associação Brasileira de Agroecologia (ABA).
Com uma abordagem interdisciplinar e prática, o curso reafirmou o compromisso com o fortalecimento da agricultura familiar e a promoção de sistemas alimentares mais justos e sustentáveis.
Regilane Fernandes, coordenadora do da Dater/SAF/MDA, ressaltou a importância de políticas de estado para a extensão rural, defendendo que é essencial não apenas reforçar o modelo estatal de assistência técnica, mas também promover novas ideias e abordagens que fortaleçam a agroecologia. Ainda destacou a necessidade de um alinhamento entre a formação dos extensionistas e as políticas públicas, assegurando que a agroecologia seja reconhecida como um movimento social crucial para a formulação de políticas públicas concretas e sustentáveis, que atendam às necessidades dos agricultores e extensionistas em todas as regiões do Brasil.

“O MDA está alinhado a essa construção do saber científico da agroecologia, tanto na perspectiva de abordagem metodológica, quanto como prática social e concreta. Reconhecemos profundamente que o conhecimento não se constrói de forma isolada do contexto da agricultura familiar e dos próprios extensionistas. A agricultura familiar demanda políticas articuladas, como o associativismo, o cooperativismo, o acesso ao crédito e a agroindustrialização. Assim, a política pública deve colocar a formação e a assistência técnica e extensão rural como articuladoras de saber e de políticas públicas, integrando o conhecimento científico com a prática real dos agricultores e extensionistas.”
Ela fez questão de ressaltar ainda que a UnB é profundamente instigadora, porque é uma universidade que se posiciona, que acessa o recurso público e diz para o MDA: vamos juntos fazer isso. Mas, ao mesmo tempo, ela também enquadra o MDA, trazendo as pesquisas que são feitas e dizendo: essa é a realidade, vocês precisam estar antenados com ela. “Então, para nós, é muito tranquilo e muito instigante ter a UnB como parceira. Essa construção, feita com a Asbraer, a Faser e a ABA, qualificou não só este curso, mas tudo que a gente pretende fazer daqui para frente.”
O Papel da Extensão Rural
Durante o curso, que começou com conceitos básicos de agroecologia e culminou em debates sobre estratégias práticas de mercado, destacou-se o papel da extensão rural em conectar conhecimento técnico e práticas locais. Além disso, foi ressaltada a importância de fomentar redes de colaboração, como cooperativas e associações, para superar desafios no acesso a mercados.
Marines Bock, coordenadora de ATER da FASER, ressaltou a importância de uma extensão rural que promova o protagonismo de homens, mulheres e jovens no campo, enfrentando os desafios do uso de agrotóxicos e da sustentabilidade ambiental. Segundo ela, a agroecologia se torna fundamental para construir sistemas resilientes às mudanças climáticas e combater os impactos ambientais.
“Queremos parabenizar todos os participantes que se desafiaram a trocar experiências e buscar conhecimento para fortalecer a extensão rural. Destaco tanto os extensionistas quanto os acadêmicos que se propuseram a se qualificar com este curso, visando atuar de forma mais dialógica e atender às demandas dos agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais, assentados da reforma agrária.”
Marines também destacou que a extensão rural sozinha não dará conta dos desafios estruturais, como o acesso à terra, habitação e infraestrutura. É fundamental que o Estado se mobilize e invista para fortalecer as políticas públicas e garantir a valorização dos extensionistas, permitindo que eles cumpram sua missão de articular políticas públicas e ações que potencializam a agricultura familiar e os assentados da reforma agrária.
Vânia Pimentel da ABA, começou destacando a importância de manter e fortalecer a relação entre a agroecologia e os circuitos curtos, garantindo que os agricultores tenham acesso a mercados que valorizem produtos mais sustentáveis e com menor uso de agrotóxicos. Ela fez questão de destacar a importância dos Núcleos de Estudos em Agroecologia (NEAs), que têm sido fundamentais na formação de extensionistas, militantes e estudantes. Esses grupos trabalham diretamente com os agricultores, em diálogo com a realidade concreta, ajudando a superar desafios e fortalecer a agroecologia. “A atuação dos NEAs e o apoio a editais do governo são essenciais para dar continuidade a esse trabalho, garantindo que a agroecologia continue a ser um pilar na formação de extensionistas engajados e capacitados.”
Para ela, a agroecologia não é apenas uma prática agrícola, mas um compromisso político, que busca a permanência e o bem-estar dos agricultores na terra. “Assim, a parceria com a ABA e o fortalecimento dos NEAs são fundamentais para promover uma extensão rural que respeite as demandas dos agricultores e contribua para a transição agroecológica.”
Quando Isaac Sassi, Assessor Parlamentar da Asbraer, falou sobre a necessidade de se pensar políticas de estado para a extensão rural, destacou a importância de não apenas manter a assistência técnica e extensão rural como um pilar fundamental, mas também de inovar para que o estado possa atuar de maneira eficaz. No Brasil, optou-se por um modelo essencialmente estatal de assistência técnica e extensão rural, o que se mostrou essencial para o fortalecimento das práticas agrícolas e o Bem Viver no campo. Isaac reforçou a necessidade de reafirmar as vantagens desse modelo, que garante acesso à renda, valorização dos produtores e contribui para o desenvolvimento sustentável no meio rural.
“A equipe do projeto ERA, composta por profissionais qualificados e comprometidos, têm desempenhado um papel fundamental na qualificação das políticas públicas, promovendo uma extensão rural baseada em princípios agroecológicos, alinhados com as demandas dos agricultores familiares e extensionistas de todo o Brasil”, finalizou.
O Legado do Curso
A aula final encerra um ciclo, mas deixa como legado uma rede fortalecida de profissionais e agricultores comprometidos com a agroecologia e o acesso a mercados. Para muitos participantes, foi mais do que um curso: foi uma oportunidade de repensar estratégias, compartilhar saberes e fortalecer a conexão entre campo e cidade.
“Esses encontros são essenciais para criar pontes que promovem a valorização do trabalho do agricultor familiar e transformam a maneira como consumimos e nos relacionamos com os alimentos”, concluiu Flaviane Canavesi.
Possibilidade de Rever as Aulas e Orientações Finais
Os participantes do curso “Agroecologia: Bases Conceituais e Metodológicas para a Extensão Rural” podem acessar todas as aulas gravadas no canal do YouTube da Era Extensão Rural e Agroecologia. Com isso, é possível revisar o conteúdo das oito aulas e consolidar o aprendizado em relação às bases da agroecologia e suas metodologias.
Certificação e Publicação
Para receber a certificação do curso, os participantes devem preencher o questionário de certificação do curso ou optar pela entrega do resumo expandido, caso escolham essa modalidade. Os trabalhos poderão ser submetidos para avaliação editorial e, após edição, aqueles que atenderem às diretrizes da Revista Brasileira de Agroecologia (RBA) serão publicados em e-books. As orientações detalhadas para o envio, como formato e estrutura dos resumos, estão disponíveis nas diretrizes da RBA, garantindo que todos os critérios sejam seguidos. O prazo para entrega dos trabalhos é 13 de janeiro de 2025. Com essas orientações, o curso encerra uma jornada de aprendizado significativa, abrindo portas para futuras iniciativas em agroecologia.
Todos os participantes do curso devem preencher o formulário de avaliação curso.
Para mais detalhes, confirme o e-mail direcionado aos participantes do curso.
Armazém do Campo: Uma Experiência Prática

A escolha do Armazém do Campo como local para a aula final foi simbólica. O espaço, que promove alimentos da agricultura familiar e agroecológica, serviu de inspiração para os participantes ao exemplificar como é possível aproximar campo e cidade. “O consumidor também tem um papel transformador, ao priorizar alimentos de origem sustentável e incentivar o crescimento de cadeias curtas de comercialização”, enfatizou Flaviane.
De acordo com Dias, assentado da reforma agrária do MST, em resposta aos fortes ataques aos movimentos sociais e à reforma agrária durante o governo anterior, com o fortalecimento dos grandes latifundiários e proprietários rurais, o movimento percebeu que não poderia colocar suas famílias em risco. Assim, surgiu a necessidade de buscar alternativas para manter a luta e o fortalecimento da reforma agrária. Decidimos ocupar a cidade, levando nossos produtos para feiras, comércio e instituições, mostrando que a reforma agrária é viável e bem-sucedida, com produtos de qualidade, sem veneno — defendidos pelo MST. Esse movimento gerou a necessidade de organização da produção e dos agricultores, levando à criação de cooperativas e, posteriormente, à fundação da rede de Armazéns do Campo, que hoje conta com 28 lojas em diversas capitais e interior do Brasil, reforçando a política da reforma agrária.
Exposição Mulheres Negras e Resistência Camponesa

Quem participou do curso no Armazém do Campo pôde apreciar a exposição “Mulheres Negras e Resistência Camponesa”. Marinalva Araujo Andrade dos Santos assentada da reforma agrária do MST compartilhou detalhes sobre a exposição, que se configura como um ato de reconhecimento da força e resiliência das mulheres do campo. “Não se trata apenas de uma homenagem, mas também de um chamado de atenção para a importância da luta dessas mulheres, que historicamente foram silenciadas e marginalizadas. As fotografias, carregadas de ancestralidade, vínculos e histórias, refletem suas experiências de resistência e nos convidam a refletir sobre as necessidades dessas mulheres e a valorização de seus esforços diante das adversidades.”
Comunicação ERA